A retomada de protagonismo internacional pelo governo brasileiro, particularmente a retomada dos instrumentos da integração sul-americana vêm demonstrando que existe um choque com os interesses geopolíticos americanos e que alguns movimentos na mão contrária se vêm desenvolvendo, tendo em vista o choque de interesses que se vão acentuando no grande jogo geopolítico e que têm rebatimento no continente sul-americano. Vejam-se alguns movimentos norte-americanos em nosso continente, como é o caso da chegada de um contingente de 2.500 soldados americanos ao Peru. Vejam-se também, no Brasil, os movimentos de militares americanos na Amazônia ou o seminário do Comando Terrestre do Exército, COTER sobre Doutrina Militar, com forças armadas estrangeiras convidadas, fundamentalmente conectados a países da OTAN, ou a participação de um alto oficial brasileiro no Comando Sul dos EUA. Também os casos de desestabilização política na Colômbia e na Venezuela. E assim por diante.
Há um claro descompasso nos movimentos geopolíticos do governo e dos militares brasileiros, o qual tende a se agudizar, conforme avance a relação brasileira e sulamericana no processo de integração regional, bem como as discussões sobre a construção de algum grau de relação entre os países no âmbito da defesa. O peso relativo da China na economia da América do Sul também interfere no jogo de interesses geopolíticos mundial, incomodando os objetivos estratégicos dos EUA, até porque o continente é detentor de reservas internacionais de alguns minerais estratégicos para importantes setores da economia moderna, como é o caso do lítio, que tem dois terços das reservas mundiais concentrados em seu território, concentrados na Bolívia, nordeste da Argentina e nordeste do Chile. Como está reagindo o governo americano? Como isso se rebate nos movimentos políticos internos a cada um dos países? O que esperar desses movimentos?
Para abordar esse tema, contaremos com as contribuições de:
Piero de Camargo Leirner, professor titular na Universidade Federal de São Carlos na área de antropologia da guerra e sistemas hierárquicos; dedica-se ao estudo de guerra híbrida, suas formas e aplicações no contexto brasileiro.
Héctor Luis Saint-Pierre, coordenador executivo do Instituto de Políticas Públicas e Relações internacionais da UNESP, onde também é líder do Grupo de Estudos de Defesa e Segurança Internacional (GEDES).
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